Klubai's Khan II |
Foi em agosto de 2008. Faz cinco anos. Descobri que o cara que trabalhava do meu lado, o Felipe, tinha vivido por quase dois anos em um barco que já tinha dado meia volta ao mundo. Fiquei fascinada, enlouquecida, não conseguia acreditar. Era isso. Fazia todo o sentido morar num barco.
O Felipe me contou que a embarcação - uma réplica do
um junco chinês usado por Marco Polo, daí o nome Klubai's Khan II (o Imperador
que financiava as aventuras desse viajante) - foi construído na Indonésia pelos
aventureiros alemães Axel Brümmer e Peter Glöckner. Já tinha refeito a
rota de Marco Polo e recentemente a de Pedro Álvares Cabral, por
influência dele e dos outros oito brasileiros que já tinham passado pelo barco.
Esse junco havia abrigado cerca de 200 pessoas de 26 nacionalidades, inclusive
oito brasileiros, um deles, o Felipe que trabalhava na cadeira do meu lado. Foi
nessa que eu pirei de vez. Quando ele me contou que o barco estava estacionado
logo ali, em Paraty, então… Esperei a sexta feira e fui direto pra lá. E a
certeza só aumentava.
Descobri que o barco estava com problemas para seguir
viagem. Estava em péssimas condições, precisava sair da água para uma reforma,
consertar barco é muito caro, o visto estava acabando e teria que sair do país
logo. As empresas que apoiavam o barco pararam as doações, pois ele não estava
mais em território europeu, os capitães desistiram de continuar a viagem,
estavam cansados. Um novo capitão surgiu, um sueco, ex-tripulante do junco, o
Migg, tentaria grana pra seguir viagem com uma nova tripulação e abriu uma loja
virtual no país dele. O objetivo agora era completar a volta ao mundo, seguindo
primeiro para o Caribe e de lá para Galápagos pelo Pacífico. Tirei meu
passaporte em 24h, impressionantemente alguém desmarcou bem no dia seguinte que
entrei no site da polícia federal e no
único horário que eu podia. Tive certeza que eu ia seguir com o barco.
Escrevi para o Luciano Huck, Petrobrás e para a Osklen
pedindo grana. Nunca fabulei tanto na minha vida, queria escrever um livro no
barco, fazer filmes, dar aula no barco, criar no barco, inventor, estar, ser...
viver no barco. Com o pouco dinheiro que conseguimos a solução seria seguir
para a Bahia onde o conserto era mais barato. Tudo pronto. Decidi continuar no
trabalho no Rio até o barco ficar pronto na Bahia, o que demoraria uns dois meses.
O leme do barco quebrou perto de uma praia em Macaé em
dia de ressaca. Os passageiros ficaram à deriva, todos se salvaram e conseguiram
apoio para trazer o barco de volta ao Rio. Ele foi vendido, quase dado, para um
grupo de empresários passear com a família nas férias em Búzios, mas ainda está
parado num estaleiro em Niterói.
Continuo acreditando no barco.
Acho que é meu destino seguir com ele. Eu vou seguir
com ele.
Como se o barco fosse uma dobra de mim.
Bia Morgado
Rio de Janeiro, 07 de agosto de 2013
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