Jacqueline Siano


dos (des)encontros em noites chuvosas from jac siano on Vimeo.
Incontáveis vezes afundei no assento de veículos e desejei o movimento contínuo – sempre indo – não importava para onde. No silêncio do deslizar macio das rodas no asfalto – ir-me. Sem rumo (ou fala) fosse dia, fosse noite. Dormir e só bem mais tarde, despertar dos desencontros que acontecem no meio dessa cidade. Longe dos olhos e das luzes. Sonhava uma forma de escape, ainda que breve, que tomasse forma de uma distância possível entre o abismo escavado nas falas e os subsolos mudos de onde brotam cordilheiras invisíveis, e eu, mansamente, continuasse afundando no assento interminável. (J.S.)


ipuã a vista from jac siano on Vimeo.

A ilha é o que o mar rodeia, e aquilo que se dá a volta, ela é um ovo. Ovo do mar, ela é redonda. Tudo passa como se, o seu deserto, ela o tivesse posto ao seu redor, fora dela. Deserto é o oceano, bem ao redor.
Gilles Deleuze[1]

Ipuã[2] à vista é um projeto de videoinstalação que transita entre lugares e temporalidades distintas trazendo para o espaço público uma ação realizada dentro de um espaço privado. O primeiro movimento insular consiste no registro em vídeo da ação operada em ambiente doméstico, onde a artista constrói uma ilha de livros. O segundo movimento acontece no ateliê, e demanda um tempo de isolamento próprio ao processo de montagem do vídeo. O terceiro tempo acontece com a projeção do vídeo no piso de uma galeria. Nesse lugar, o espectador é convidado a vivenciar, através das imagens em movimento e do som, que envolvem o ambiente, as questões pertencentes ao universo poético da artista, que perpassam pelo embate entre público e privado, presença e ausência, esquecimento e memória, natureza e cultura, separação e recriação. (J.S.)

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Jacqueline (Jac) Siano é carioca. Amante dos deslocamentos viveu entre ilhas e continentes. Por enquanto, se encontra ancorada na cidade do Rio de Janeiro, mas pode partir a qualquer momento. Depois de alguns desvios, descobriu, afinal, que não podia mais se furtar ao ofício das artes, e a elas entregou-se totalmente. Desde 2004 participa de exposições e ações em todos os lugares que a recebam bem. Segue nomes em busca de lugares, e de encontros com o inesperado. Transita entre o vídeo, a fotografia, a gravura, o desenho, e o que mais vier.
http://jacsiano.blogspot.com.br/
http://www.jacquelinesiano.com/

[1] DELEUZE, Gilles. Causas e Razões das Ilhas Desertas. In: A Ilha Deserta e outros textos. São Paulo: Iluminuras, 2006.
[2] Ipuã [Do tupi i + pu' ã, 'água redonda (ao redor)'. S.f. Bras., AM. Ilha (1). In: Novo Dicionário da Língua Portuguesa. FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Nova Fronteira, 2ed.,1986, p. 967.

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