Mayra Martins Redin, Sugestão para destruir um segredo, 2012.
Se perder no caminho para seu
destino. Mandar
uma carta é endereçar mas também perder o controle da voz.
“Cartas extraviadas! Isso não se parece com homens extraviados?”
Herman Melville
destruir um segredo fazendo uso do sistema dos
correios.
- escrever um segredo num pedaço de papel,
- tentar descobrir dois endereços inexistentes (correndo o risco dos endereços existirem e assim o segredo ser descoberto ao invés de destruído) e enviar o segredo pelo correio.
- dizer o segredo para poder destruí-lo. Balbucio (Barthes (2012): é necessário que se aumente o que se diz pra corrigir o que foi dito “errado”[1]: “Essa singularíssima anulação por acréscimo”.
- algo que precisa ser segredado carrega um certo “erro” e por isso torna-se segredo.
- Dizer para apagar, dizer para esquecer, para perder. Afirmar o apagamento é contrário ao “não dizer”, é o dizer e então, depois de dito, apagar. É um ter que dizer para não mais dizer. Há a produção de um ruído neste ato. Mesmo que ele venha a desaparecer, produz uma ruína frágil que não se sustenta enquanto ruína, por sua insignificância, por seu caráter errático onde o que se produz de inscrição é apenas com o intuito de corrigir o que foi mal-dito. Logo torna-se Nada.
Todo o movimento de ir até o final do mundo, onde estão
todos os objetos perdidos em todos os oceanos, jogados nas areias do litoral
(sul), os navios são também correspondências que arriscam o destino.
E lá é onde qualquer destino se perdeu.
Lá estão todos os destinos perdidos.
Tudo que (se) perde segue em direção ao mar.
Não resta nada quando você
insiste pralém dos teus limites
E também não resta nada
quando você desiste antes de chegar nos teus limites.
Outra maneira de não restar
nada é não escrever.
Há navios encalhados,
carcaças
Mas há o que não há
E há tanto do que não há
Que é como carcaça
O que não há
Que é como carcaça de
navio naufragado
O que não há
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Mayra Martins Redin
Nasceu em 1982 em Campinas, SP. Atualmente mora no Rio de Janeiro. Para dar uma ideia mais precisa da geografia da sua vida entre Campinas e RJ: cresceu em Minas Gerais até os 12 anos, depois, morou no Rio Grande do Sul, até quase ontem. Participou de algumas residências artísticas no Brasil e no exterior. Participa de exposições e também trabalha com publicações e ilustrações. Em sua trajetória artística se interessa por questões relacionadas à imagem e palavra pensando os limites entre o visível e o invisível, o registro e a memória, a intimidade e a troca.
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O
trabalho “Sugestão para destruir um segredo” consistiu num mail que mandei para
os Correios perguntando o que aconteciam com as cartas que tinham remetente e
destinatário inexistentes. O trabalho consiste num print que fiz da pergunta, a
resposta que recebi dos Correios e o título.
Mayra Martins Redin
Nasceu em 1982 em Campinas, SP. Atualmente mora no Rio de Janeiro. Para dar uma ideia mais precisa da geografia da sua vida entre Campinas e RJ: cresceu em Minas Gerais até os 12 anos, depois, morou no Rio Grande do Sul, até quase ontem. Participou de algumas residências artísticas no Brasil e no exterior. Participa de exposições e também trabalha com publicações e ilustrações. Em sua trajetória artística se interessa por questões relacionadas à imagem e palavra pensando os limites entre o visível e o invisível, o registro e a memória, a intimidade e a troca.
[1] Maciel (2004) entende o erro “tanto como falha,
desacerto, lapso, quanto como a condição do que se espalha em várias direções” (p.
149), é neste sentido que falo de “erro”.
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